A Melodia que se Perde: a dura realidade dos músicos brasileiros
Entre leis que se esvaem e verbas que desviam, a vida de quem vive de música no Brasil se transforma em um desafio diário de sobrevivência e dignidade.
O som da música brasileira encanta o mundo, mas por trás da melodia, a realidade dos músicos é uma partitura de desafios. Enquanto a classe cultural celebra iniciativas federais importantes, como a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo, a verba que deveria chegar às mãos dos artistas muitas vezes se perde em um labirinto burocrático e político. A vida do músico no Brasil, em especial a do profissional autônomo, está cada vez mais distante de uma trajetória de dignidade.
O problema é multifacetado. Recentemente, a atuação da Ordem dos Músicos do Brasil foi reduzida pelo Supremo Tribunal Federal, o que enfraqueceu a regulamentação da profissão e, consequentemente, a proteção de seus direitos. Sem uma entidade forte para mediar e fiscalizar, a categoria se tornou ainda mais vulnerável a abusos e explorações.
A situação se agrava com a gestão de recursos públicos. Verbas que seriam destinadas à cultura e ao turismo, tanto em nível federal quanto municipal, são administradas por órgãos que, segundo denúncias de músicos, priorizam interesses políticos. A distribuição desses recursos muitas vezes favorece CNPJs e empresas do setor, em vez de beneficiar diretamente os artistas que produzem a cultura. Músicos e artistas reclamam que produtores, empresários e gestores culturais estão recebendo o dinheiro que deveria ser deles, o que cria uma nova camada de atravessadores.
A exploração não se restringe às esferas de governo. Nos palcos de bares e restaurantes, a dignidade dos artistas é frequentemente desrespeitada. O couvert artístico, uma taxa paga pelos clientes para remunerar o trabalho do músico, é muitas vezes apropriado pelos donos dos estabelecimentos. A prática, além de ilegal, demonstra a falta de reconhecimento e valorização do trabalho artístico.
Além disso, a burocracia e a corrupção também se manifestam em eventos públicos. Músicos afirmam que a obtenção de alvarás para eventos se tornou um fardo financeiro e que as prefeituras têm se associado indevidamente aos cachês. Até mesmo músicos renomados, para garantir que suas apresentações aconteçam, são obrigados a pagar "pedágios" exorbitantes, o que prejudica a carreira e a divulgação do seu trabalho.
Neste domingo, em que muitos pais músicos deveriam ser celebrados por sua dedicação e talento, a realidade é de remunerações divididas e dignidade comprometida. O dinheiro, que seria o sustento de suas famílias, se esvai nas mãos de atravessadores, governos municipais e estaduais.
É inegável o esforço do Presidente Lula, que criou diversas alternativas para o fortalecimento da classe cultural. No entanto, o problema não está na criação das políticas, mas na gestão delas. É urgente que os responsáveis por administrar esses recursos direcionem seu olhar para o artista brasileiro e não para os empresários do setor. O músico, que com seu talento enriquece a nossa identidade cultural, merece ter sua dignidade e seu trabalho respeitados.
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