sexta-feira, 17 de outubro de 2025

COLUNA DO COUTO: "A fome na Bahia: do quadro estadual às dificuldades no Sul do estado"

 Índice da Matéria


  1. Introdução
    • Impacto da fome no Brasil e na Bahia.
    • Breve contextualização: contrastes entre turismo, riqueza e fome.
  2. Panorama da fome na Bahia
    • Dados estaduais de insegurança alimentar (percentuais, milhões de famílias).
    • Programas estaduais de combate à fome (Bahia Sem Fome, cozinhas solidárias, agricultura familiar).
    • Resultados positivos, mas ainda insuficientes.
  3. Dificuldades estruturais no estado
    • Logística (território amplo, estradas precárias).
    • Recursos e orçamento.
    • Falta de adesão de alguns municípios ao SISAN / Conselhos.
    • A dependência de repasses e de programas centralizados.
  4. A realidade no Sul da Bahia
    • Cidades turísticas x desigualdade social.
    • Dados de Porto Seguro: população, número de domicílios, insegurança alimentar.
    • Programas locais: Alimenta Brasil, PAA, distribuição de cestas básicas (exemplos de 2021–2023).
    • Número de famílias atendidas vs. famílias necessitadas.
  5. Por que as cestas não chegam como deveriam
    • Problemas de transporte e logística nas zonas rurais/distritos.
    • Critérios de seleção pouco transparentes.
    • Recursos municipais insuficientes.
    • Planejamento irregular e dependência de emergências.
    • Falta de articulação entre prefeitura, estado e União.
  6. Consequências da fome na região
    • Impactos diretos: crianças, trabalhadores informais, comunidades indígenas.
    • A fome em meio ao turismo e ao luxo: contradição social.
  7. Propostas e caminhos possíveis
    • Fortalecer a agricultura familiar local.
    • Garantir orçamento permanente.
    • Transparência nos cadastros e participação comunitária.
    • Expansão das cozinhas comunitárias e solidárias.
    • Articulação de políticas integradas (saúde, assistência social, educação).
  8. Conclusão
    • Reforço do direito humano à alimentação.
    • O contraste de Porto Seguro: cidade símbolo do turismo, mas também de desigualdade.
    • Chamado à ação: sociedade, governos e entidades precisam cobrar e agir.

Matéria

A fome na Bahia: do quadro estadual às dificuldades no Sul do estado

Em pleno século XXI, a Bahia ainda convive com um problema que deveria estar no passado: a fome. O cenário é contraditório. Enquanto alguns setores da economia crescem e cidades turísticas recebem milhares de visitantes, milhões de baianos ainda não sabem se terão o que comer no próximo dia.

A fome no estado da Bahia

De acordo com dados oficiais de 2024, 37,8% dos domicílios baianos convivem com algum grau de insegurança alimentar, o que representa mais de 2,1 milhões de famílias. Aproximadamente 1,7 milhão de pessoas enfrentam insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome.

Nos últimos dois anos, o programa estadual Bahia Sem Fome ajudou a reduzir os índices, beneficiando 65,7 mil famílias em apenas seis meses de ação, com a distribuição de mais de 657 toneladas de alimentos. Além disso, foram criadas cozinhas comunitárias e solidárias em diversos municípios, além de incentivos à agricultura familiar.

Mesmo com avanços, os números continuam alarmantes. A Bahia ocupa uma das piores posições no ranking nacional de insegurança alimentar.

As dificuldades estruturais

A logística é um dos grandes gargalos: o estado possui dimensões continentais e regiões de difícil acesso, especialmente em períodos de chuva. Estradas ruins e falta de transporte adequado dificultam a chegada de alimentos a comunidades afastadas.
Outro problema é a dependência dos municípios em relação aos repasses estaduais e federais. Nem todas as cidades estão integradas ao SISAN (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) ou possuem conselhos municipais ativos, o que limita a capacidade de planejamento e execução local.

A realidade no Sul da Bahia

É no Sul do estado que o contraste se torna ainda mais visível. Porto Seguro, um dos principais destinos turísticos do Brasil, convive lado a lado com a fome. Segundo estimativas oficiais, o município de Porto Seguro, exemplo a ser citado,  tem 168 mil habitantes e cerca de 60 mil domicílios, muitos deles em situação de vulnerabilidade, apesar de todos os esforços.

Nos últimos anos, a prefeitura implementou programas de apoio, como o Alimenta Brasil e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que distribuem hortifrutis produzidos por agricultores locais. Em 2023, foram entregues 18 toneladas de alimentos, beneficiando 44 agricultores e centenas de famílias.
Em momentos críticos, como durante a pandemia, mais de 1.300 cestas básicas foram distribuídas a famílias em vulnerabilidade. Em comunidades como Frei Calixto, Vera Cruz e Trancoso, houve entregas específicas que atenderam algumas centenas de famílias.

Apesar dos esforços, o número de famílias atendidas é menor que a necessidade real. Muitas comunidades, especialmente rurais e indígenas, ainda enfrentam dificuldades para receber apoio regular.

Por que as cestas não chegam como deveriam em todo o Brsail?

  • Logística precária: estradas e transporte insuficientes dificultam o acesso a áreas afastadas.
  • Critérios pouco claros: famílias relatam incerteza sobre quem tem direito e quando haverá distribuição.
  • Recursos limitados: o orçamento municipal não cobre a demanda crescente.
  • Planejamento irregular: as entregas acontecem em caráter emergencial, sem periodicidade fixa.
  • Falta de articulação: nem sempre há integração eficiente entre prefeitura, estado e União.

As consequências da fome no Sul da Bahia

A fome afeta principalmente crianças, trabalhadores informais, indígenas e famílias que vivem em áreas periféricas ou rurais. O contraste é evidente: enquanto hotéis de luxo oferecem banquetes para turistas, famílias locais lutam para garantir o básico.

Propostas e caminhos possíveis

Para mudar esse cenário, algumas medidas são essenciais:

  • Fortalecer a agricultura familiar local, garantindo escoamento da produção e abastecimento direto às famílias.
  • Garantir orçamento permanente para segurança alimentar.
  • Transparência nos cadastros e participação da comunidade no controle social.
  • Ampliar cozinhas comunitárias e solidárias, para oferecer refeições diariamente.
  • Integração de políticas públicas, unindo assistência social, saúde, educação e agricultura.

Conclusão

A fome na Bahia é um problema que tem raízes profundas e soluções conhecidas. O que falta é vontade política e gestão eficiente. No Sul da Bahia, a desigualdade social salta aos olhos: de um lado, o turismo internacional em vários municípios; de outro, famílias que dependem de uma cesta básica que muitas vezes não chega.

Fica a sugestão da criação de taxas e captação  em impostos municipais para o combate à fome, principalmente naqueles municípios que trabalham para atender esta demanda, mas que infelizmente não conseguem atender a meta necessária. Apesar de todos os esforços do Governo Federal, Estadual e Municipal em buscar a FOME ZERO, isso não acontece, mas se o foco fosse extremamente objetivo cada município poderia fazer o dever de casa e atingir o princípio da dignidade humana, o alimento na mesa de quem tem fome.
Garantir o direito à alimentação é mais do que uma obrigação legal — é uma questão de dignidade humana.



Sergio Couto é Presidente do SINDMAEB, Delegado da OMB , Vice-Presidente do Partido Verde e representante do ICA no Estado da Bahia

 

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