RIO - O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) criticou a decisão do governo brasileiro de aderir ao fórum de diálogo da Opep+, grupo de países aliados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A aprovação da adesão foi divulgada nesta terça-feira, 18, pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Segundo a instituição, criada em 1995, a adesão contradiz os compromissos climáticos assumidos pelo Brasil e a busca pela liderança da agenda junto aos demais países, na apresentação de maiores ambições para as metas climáticas nacionais.
“O Brasil insiste em caminhos opostos em um momento no qual deveria liderar pelo exemplo, manchando sua reputação na COP-30. Investir em petróleo é atrasar o desenvolvimento nacional inteligente. Pior: é jogar tempo e dinheiro naquilo que vai nos matar”, disse em nota o diretor executivo do Ipam, André Guimarães.
A instituição disse que além de aceitar integrar a aliança com grandes produtores de petróleo do mundo, o Brasil protagoniza um momento de pressão política para a liberação de estudos sobre a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira.
“Há alternativas à exploração petroleira, inclusive já adotadas pelo Brasil. O País tem sua matriz energética majoritariamente renovável, na qual deve-se investir para que seja limpa de impactos socioambientais, além de buscar soluções para fonte de energia em biocombustíveis”, acrescentou Guimarães.
Ainda segundo o Ipam, os passos na contramão do equilíbrio climático global ocorrem depois do ano mais quente da história da humanidade, o primeiro a ultrapassar 1,5°C acima da temperatura média global antes do surgimento da indústria.
“O ano de 2024 foi marcado por eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo, causando mortes evitáveis. Acontecimentos como estes só irão diminuir se as políticas nacionais e internacionais se voltarem para a energia limpa, para o desmatamento zero e para a agropecuária de baixo carbono”, pontuou o diretor.
Quem compõe a Opep
A Opep, que hoje reúne 13 grandes produtores de petróleo do mundo, foi fundada em 1960, em Bagdá, no Iraque, por cinco países (os membros fundadores): Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela.
Outros países foram ingressando na Opep ao longo do tempo — são os chamados membros plenos. Os que continuam no grupo ainda hoje, além dos fundadores: Líbia (entrou em 1962), Emirados Árabes Unidos (1967), Argélia (1969), Nigéria (1971), Gabão (1975), Angola (2007), Guiné Equatorial (2017), Congo (2018).
O que é a Opep+?
A Opep+, por sua vez, é uma espécie de grupo expandido que agrega os 13 membros da Opep mais dez países, dos quais o mais relevante para o mercado de petróleo é a Rússia. Esses dez países aliados colaboram com iniciativas da Opep, mas não têm direito a voto na organização: Rússia, Cazaquistão, Bahrein, Brunei, Malásia, Azerbaijão, México, Sudão, Sudão do Sul e Omã.
Com a adesão ao Fórum de Diálogo da Opep+ não há nenhuma obrigação vinculante ao Brasil. “O Brasil foi convidado para que nós fizéssemos parte da carta de cooperação (fórum)”, disse Silveira.
O fórum busca tratar de “discussão de estratégias dos países produtores de petróleo”, declarou o ministro. “Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo. O Brasil precisa crescer, se desenvolver, gerar renda, emprego, tributos para poder aplicar em educação, segurança e saúde. E o petróleo ainda é uma fonte energética global.”